Neste 21º ano de Romaria as comunidades das Ilhas de Porto Alegre estão envolvidas com um novo movimento: a construção da nova ponte do Guaíba.
Conteúdo da Notícia no Jornal Zero Hora
Além de ter o quintal de suas casas, em breve, transformado em canteiro de obras da nova ponte do Guaíba, uma nova incerteza ronda os moradores da Ilha Grande dos Marinheiros, na Capital. Toneladas de concreto poderão ocupar os poucos espaços de trabalho, diversão e religiosidade da vila.
Conforme aponta o anteprojeto de construção da obra - o projeto final ainda não foi concluído - a usina de reciclagem, a quadra de futebol e a capelinha de Nossa Senhora Aparecida deixarão de existir, deixando a comunidade sem os seus principais locais de referência.
Pelas vielas de chão batido da vila, toma força a apreensão de perder o pouco que se tem. - Tudo é uma incógnita, a gente não sabe de quase nada - resume a recepcionista aposentada Sônia Celia de Deus, 61 anos, que mora às margens do rio.
Ponte no lugar da usina - A obra deverá invadir a área da usina da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Porto Alegre Ilha Grande dos Marinheiros, onde está prevista a construção de um dos pilares da nova ponte. Moradores contam que acompanharam a medição e a demarcação dos técnicos no local. A usina está registrada desde 1989, a primeira de Porto Alegre, segundo a coordenadora-geral da associação, Sandra Marilu da Silva. São 22 trabalhadores que selecionam e processam 25 toneladas de resíduos por mês. Por lá, a insegurança de perder a fonte de renda já perturba os funcionários. - A gente pergunta e eles não têm resposta. Temos muito medo. Além de não saber para onde vai nossa casa, também não sabemos o que vai acontecer com o galpão - afirma Sandra.
"Vamos ficar sem chão" - Bem ao lado da usina, está a quadra de futebol coberta, o único espaço para prática de esportes da vila, que também deve ser demolida. Do outro lado da rua, mais um local simbólico. Uma capela de Nossa Senhora Aparecida, erguida há mais de 40 anos, onde são realizadas celebrações e batizados, também deve vir abaixo. Usado como um santuário, o espaço serve ainda para encontro de grupos de mulheres e pesagens da Pastoral da Criança, que monitora o desenvolvimento de 105 crianças da vila, da gestação até os seis anos. Voluntária do programa, a doceira Luciana dos Santos prevê o baque na vizinhança: - Vamos ficar sem eira nem beira, sem chão. Ninguém explica nada, não falam o que vai acontecer. O pessoal está apavorado. O diretor-geral do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), Everton Braz, confirma que o anteprojeto prevê que partes da estrutura da ponte passarão por estes locais.
As possíveis soluções - Ao todo, 850 famílias deverão ser removidas em função da obra na Ilha Grande dos Marinheiros e das vilas Tio Zeca e Areia. O diretor-geral do Demhab, Everton Braz, avisa que estão sendo analisadas duas áreas na Ilha Grande dos Marinheiros, do outro lado da BR-290, que poderão abrigar as famílias. A possibilidade foi levantada na última reunião com os moradores, na semana passada, mas ainda não há definições. Sandra não questiona a importância da ponte, mas reforça que os moradores não podem ser esquecidos. Conformada com a demolição das três casas onde acomoda quase toda família, ela não abre mão de ficar no lugar em que nasceu, criou os quatro fillhos e agora acompanha o crescimento dos netos. Diz que dispensará qualquer oferta de aluguel social ou para realocação em casa de passagem. Para os moradores das vilas Tio Zeca e Areia, foi indicada uma área na Avenida Frederico Mentz e um terreno próximo à rede ferroviária federal, nas redondezas da Avenida Castelo Branco. Todas estas possibilidades precisam de estudos de licenciamento e viabilidade para que se possa confirmar o destino dos moradores. Fora isso, também é preciso ter o projeto final da ponte, que irá definir sua área de abrangência exata.
Sem data - Ainda não há data para remoção das famílias, mas Everton ressalta que a obra não precisa necessariamente iniciar pelo ponto onde estão as comunidades. Conforme o diretor, a ideia é realocá-los somente quando as casas de alvenaria estiverem prontas, sem que seja necessário acomodá-los em casas de passagem. Responsável pela notificação e remoção das famílias, o Dnit informou apenas que está realizando reuniões com as lideranças comunitárias para ouvir as demandas dos moradores para após iniciar as ações. O departamento não se posicionou sobre a derrubada dos locais de referência para os moradores da Ilha Grande dos Marinheiros.
Sobre a obra:- A nova ponte do Guaíba vai mudar a paisagem de quem chega a Porto Alegre via Sul do Estado, pela BR-290.
- Prometida para iniciar em junho pela presidente Dilma Rousseff, a obra deve começar com ao menos três meses de atraso.
- Antes das máquinas chegarem, será preciso concluir os trabalhos de topografia, avaliação da corrente marítima e o programa ambiental, que deve ser entregue neste mês à Fundação de Proteção Ambiental (Fepam).
- Orçada em R$ 650 milhões, a ponte terá duas faixas em cada sentido com 1,9km de extensão dentro de um total de 7,3km, levando em conta acessos e elevadas.
- Todos os dias, 50 mil veículos utilizam o trajeto.
Na data de 09/06/14 o Instituto Fidedigna realizou a 1ª Reunião Comunitária com os ilhéus na Ilha Grande dos Marinheiros.
Conforme divulgado nas redes sociais o objetivo da reunião é para dar início ao projeto em diálogo com as famílias atingidas pelas obras, e ocorreu com a participação das lideranças e gestores. O Irmão Antonio Cechin estava presente na reunião coordenada por Eduardo Pazinatto da Equipe Fidedigna responsável pelo cadastramento.
O Movimento Romaria das Águas de 2014 está aguardando os encaminhamentos da liderança para dar seu início.
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