terça-feira, 30 de agosto de 2022

Imagem do movimento socioambiental local, inter-religioso, cultural... educativo...

Nossa imagem da Nossa Senhora das Águas gaúcha é a representação da luta socioambiental da sua comunidade. Foi criada nos anos 90 a partir da história das mulheres na Ilha Grande dos Marinheiros que, catando os resíduos chegados pelas águas para separar e tratar para sua sobrevivência, encontram uma imagem quebrada de Nossa Senhora Aparecida dentro de uma sacola. Restaurada, reciclada e colocada sobre o altar como sinal de resgate da dignidade leva a comunidade da bacia hidrográfica do Guaíba a refletir sobre qualidade de vida, cidadania e respeito a natureza, em todos as suas instâncias e sentidos.

Irmão Antônio Cecchin, 
liderando o movimento com estas mulheres, de várias crenças, 
cria a ONG Devoção da Nossa Senhora Aparecida - Caminho das Águas, nasce o movimento Romaria das Águas e surge as imagens esculpidas em madeira que seguem em romaria a cada ano, culminando em 12 de outubro: 
Obra do escultor Conrado Moser sob o desenho do arquiteto Fabiano, 
a partir das reflexões do Irmão Antônio com as comunidades, 
baseadas no Capítulo 12 do Apocalipse.

  S'imbora!!!
Movimento 2022 relembra o texto base.

A COMUNIDADE DÁ À LUZ O REINO EM MEIO A PERSEGUIÇÕES (Ap 12,1-6) 

Por Ildo Bohn Gass  - Assessor CEBI - Centro de Estudos Bíblicos

São Leopoldo, agosto de 2022.

O capítulo 12 do Apocalipse é a primeira narrativa da segunda parte desse livro. Seu objetivo fundamental é animar a esperança e a coragem na alegria em meio a tribulações. São as perseguições às comunidades cristãs por parte do exército romano na última década do primeiro século. Esse capítulo é uma dramatização desse conflito bem concreto, em nível simbólico, isto é, no plano teológico. 

Podemos dividir esse capítulo em três partes: 

1) Ap 12,1-6: Conflito no céu entre a Mulher com seu filho e o Dragão 

2) Ap 12,7-12: Expulsão do Dragão do céu 

3) Ap 12,13-18: Conflito na terra entre o Dragão e a Mulher com seus filhos 

Aqui, trataremos apenas da primeira parte, que é muito apropriada para a celebração de Nossa Senhora Aparecida das Águas. 

Ap 12,1-6: Conflito no céu entre a Mulher com seu filho e o Dragão.

Vamos dividir esta primeira parte em três cenas. 

1. O primeiro sinal: uma Mulher grávida (vv. 1-2)  - 1 Um sinal grande foi visto no céu: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; 2 estando grávida, grita, entre as dores do parto, sofrendo tormentos para dar à luz. O primeiro sinal que aparece no céu é grandioso e tem força de vida. É uma Mulher grávida que grita em dores de parto, lembrando os textos proféticos de esperança na vinda do messias libertador (cf. Mq 4,9-10; Is 21,3; 26,17). O principal significado dessa Mulher é que ela aparece como sujeito coletivo, pois as 12 estrelas de sua coroa representam, de um lado, o Antigo Israel (12 tribos) do Povo da Aliança. De outro, simbolizam o Novo Israel, o Israel de Deus aberto às nações (cf. Mt 19,28; Gl 6,16). Representa, portanto, as comunidades cristãs, “nossos irmãos” (v. 10), “seus descendentes que observam os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus” (v. 17). Ela é, pois, “Mulher Comunidade”, “Mulher Igreja”, “Mulher Povo de Deus” que luta pela vida em meio à morte na opressão. Simboliza o Israel fecundo (Is 66,7-14), o “Israel esposa” do seu “marido”, o Deus da Aliança (Os 2,18.21-22). O texto também faz memória de Eva, seduzida pela serpente, conforme a interpretação corrente de Gn 3,1-6 no judaísmo do primeiro século. Eva, que significa vida, representa a humanidade, as comunidades. Simboliza todas as lutas que geram vida para o povo. A Mulher, seu filho e seus descendentes (vv. 4b-6.17) enfrentam e, com o sangue do Cordeiro (v. 9), vencem a serpente sedutora (cf. Gn 3,13-15). É a vida vencendo a morte. Sendo o filho arrebatado uma referência a Jesus (o v. 5 se refere à sua ressurreição e ascensão), então a Mulher é Maria de Nazaré que deu à luz o Cristo. Na linguagem de João, Maria é a mãe das comunidades proféticas que seguem o seu filho (Jo 19,26-27). Como essa Mulher está adornada como rainha, a tradição cristã a chamou de Rainha do Céu. Os sinais cósmicos (céu, sol, lua e estrelas) remetem ao ambiente celeste, à presença de Deus. A identidade da Mulher é definida por esses adornos, identificando-a com Deus em plenitude, pois está vestida por todos os lados: envolta pela luz do sol, com a lua sob seus pés e a coroa de estrelas sobre a cabeça. O sol representa Deus. Ele mesmo está revestido de luz (Sl 104,2). A lua, por suas transformações permanentes, representa a eternidade (cf. Sl 72,5). Deus, portanto, envolve a Mulher como seu aliado e protetor da vida. As estrelas representam todas as comunidades fiéis ao projeto do Reino (12 é número completo). De um lado, também as comunidades têm dimensão divina (céu e estrelas), dinamizadas pelo sangue do Cordeiro (v. 11). De outro, tem dimensão terrena, pois também se encontram na terra (vv. 12b-17). Tal como um parto, dar à luz as relações do Reino é sofrimento por causa das dores e, ao mesmo tempo, é alegria pela vida que nasce (v. 2). Por um lado, essa Mulher dando à luz revela impotência e fragilidade. De outro, ela anima a esperança na luta por um mundo de dignidade para todas as pessoas. Quais são os gritos de dor dos rios e das florestas, da terra e das pessoas, seja no campo como na cidade? Como experimentamos a presença de Deus no cuidado e na defesa da vida? 

2. O segundo sinal: um grande Dragão (vv. 3-4a) -  3Foi visto outro sinal no céu: um grande Dragão, vermelho, com sete cabeças e dez chifres e sobre as cabeças sete diademas; 4asua cauda arrasta um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão que encontramos no Apocalipse (cf. 12,3.4.7.7.9.13.16.17; 13,2.4.11; 16,13; 20,2) resgata uma imagem ameaçadora da tradição israelita. Ele é símbolo de impérios colonialistas que invadem e perseguem (Jr 51,34; Is 14,29; 27,1; Ez 29,3). Como imagem mitológica, ele incorpora as forças caóticas que ameaçam a vida (Is 51,9-10; Sl 74,12-14). No Apocalipse, o grande Dragão representa o poder do mal, da morte. Simboliza as forças hostis a Deus e a seu povo, mantendo a sociedade injusta. Neste último livro da Bíblia, o vermelho é símbolo de sangue, de fogo, de guerra, de perseguição (cf. Ap 6,4). O enorme e vermelho Dragão é assustador, violento e sanguinário. Impondo medo, gera acomodação e esmaga a esperança. As 7 cabeças da Besta, que são a encarnação do Dragão e que subiu do mar (Ap 13,1) referem-se às sete colinas de Roma e aos sete imperadores romanos (Ap 17,9-11) que “tiranizam os povos que eles governam” (Mc 10,42). Fazendo um paralelo com as 7 cabeças do Dragão (Ap 12,3), deduzimos que elas representam a plenitude das forças do mal que movem as Bestas, isto é, os opressores deste mundo, sejam grandes ou pequenos, estejam fora ou dentro de nós. O número 10 simboliza totalidade. Chifres representam poder. Portanto, 10 chifres indicam muito poder, a ponto de arrastarem um terço das estrelas do céu. Porém, seu poder não é infinito, pois não conseguem derrubar a totalidade das estrelas. Assim fosse, seriam 7 chifres. No entanto, quem tem 7 chifres é o Cordeiro, o messias de Deus (Ap 5,6). O poder de Deus é infinito. Ele é o Senhor absoluto da história. Os 7 diademas (meias coroas usadas por reis e rainhas) representam o domínio político (diademas) sobre o mundo inteiro (7 é número da plenitude, da perfeição), usurpando o lugar de Deus. O Dragão, portanto, simboliza o poder do mal que anima todos os sistemas que oprimem e sufocam a vida do povo. Como o Dragão ameaça a vida hoje? Como se manifesta nas instituições administrativas e legislativas, judiciárias e midiáticas? Como experimentamos sua presença no nosso cotidiano? 

3. O conflito entre dois projetos fundamentais (vv. 4b-6) 4b O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho, tão logo nascesse. 5Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com cetro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono. 6E a Mulher fugiu para o deserto, onde tem um lugar preparado por Deus, para que ali a alimentem por mil duzentos e sessenta dias. A luta entre o poderoso e ameaçador Dragão e uma vulnerável Mulher parturiente é uma luta desigual. Ainda hoje, a vida indefesa do povo sofre a violência do poder do sistema neoliberal que visa única e exclusivamente o lucro e o luxo dos poderosos, mesmo que, para isso, tenham que sacrificar os pobres no altar do deus capital. Jesus já alertava: “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24). Deus intervém em defesa da Mulher e do seu filho recém-nascido. Esse menino é protegido por Deus. Ele é a humanidade, a descendência da Mulher (Gn 3,15). Como “cetro de ferro”, ele é o messias esperado (Sl 2,9), o profeta de Nazaré. Porém, antes de ser devorado pelo Dragão, ele é arrebatado para junto de Deus (v. 5). E a Mulher foge para o deserto, onde também é protegida por Deus (v. 6). O deserto é o lugar da fidelidade e do cuidado de Deus (cf. Gn 16,1-15; cf. v. 7; 21,1-21; cf. v. 14; Os 2,16). Ali no deserto, a Mulher é alimentada, da mesma forma como o povo na caminhada libertadora pelo deserto (vv. 6.14; cf. Ex 16). 1260 dias equivalem a 42 meses, isto é, três anos e meio (Ap 11,2; 13,5). É a metade de 7, portanto, tempo incompleto. É o tempo controlado por Deus. O tempo das perseguições tem prazo de validade. A perseguição vai acabar. Assim como hebreus e hebreias fugiram da opressão no Egito para o deserto, também a Mulher foge para um lugar seguro (v. 6). As comunidades, simbolizadas pela Mulher, têm a missão de ser um lugar seguro, de acolhida e proteção da vida, de relações de respeito e de igualdade. Como se dá essa experiência em nossas comunidades? Hoje, onde e como o Dragão persegue a Mulher e devora seu filho? É na intimidade com Deus que nos transformamos e nos fortalecemos para enfrentar e vencer o Dragão. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). “Estejam alertas e vigiem. O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar” (1Pd 5,8). Bênção de Shadai, a Mãe das águas Pelo Deus de teu pai que te auxiliará; por Shadai que te abençoará com bênçãos dos céus lá de cima, com bênçãos das fontes do fundo da terra, com bênçãos dos seios e do ventre. (Gn 49,25). 

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