quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A pedagogia do cuidar da água

Conheci a Romaria em 2007 quando recebi o convite do Programa Cantando as Diferenças para participar na Usina do Gasômetro da chegada da imagem de Nossa Senhora das águas. Nesta época já estava aplicando meus estudos em Ecopedagogia através da ação junto ao Projeto Ambiental Arroio Araçá: Nosso Rio Guri, em Canoas. Estas esperiências foram sendo costuradas, certamente, pela minha Mãe Oxum, a qual pedi que clareasse meus caminhos na busca da melhor ação neste mundo de tanta falta de cuidado, de todas as formas. E seu canto embalou meus sentimentos, sua docura vem alimentando meu coração para encontrar a vibração do amor na lida com a tristeza da destruição. Peço que sua luz se espalhe sobre toda a humanidade, que nos faça instrumento de cuidado de suas águas e que elas lavem os males que detroem a vida e as belezas da natureza.



Água e dignidade para todos: dever dos governos e compromisso das religiões

A água é um direito de todos os seres vivos, de todas as formas de vida. O direito ao acesso à água é uma questão de dignidade da pessoa. A garantia desse direito constitui um desafio e um dever dos governos para com as suas populações. E como propõe a ONU, é uma responsabilidade que deve ser compartilhada. E ao falarmos em compartilhar responsabilidades, devemos ter presente o compromisso das religiões. Estas não podem se omitir em dar a sua contribuição para garantir o sagrado direito à água. A água está intimamente ligada ao sagrado. “Em todas as religiões e tradições espirituais, a água tem um significado mais rico do que o seu conteúdo material”.

A água, através de seu ciclo natural, faz uma grande romaria. Ela vai ao santuário e sempre retorna, renovada para continuar dando vitalidade às outras criaturas. Com isso, queremos ilustrar a reflexão com um exemplo de como a religião pode contribuir na luta pela água. Uma das atividades da Pastoral da Ecologia no Rio Grande do Sul é a “Romaria das Águas”. Além de promover a reciclagem de material e organizar catadores em cooperativas e associações, o auge do trabalho da Pastoral da Ecologia é a procissão fluvial a Nossa Senhora Aparecida das Águas, que acontece sempre no dia 12 de outubro. É uma festividade religiosa que faz parte da semana da água e conta com a participação de várias religiões. Numa ilha chamada “Ilha Grande dos Marinheiros”, em Porto Alegre, existe um pequeno santuário dedicado a Nossa Senhora Aparecida das Águas e, no dia da procissão, é encenado o “Auto das Águas Santas”, que enfoca a preservação dos mananciais. Mas a romaria não acontece em apenas um dia, pois durante todo o ano são desenvolvidas várias atividades ambientais, especialmente de conscientização, em cidades próximas às nascentes dos rios, que formam a bacia hidrográfica do Guaíba.

O trabalho de educação ecológica abrange vários municípios do Rio Grande do Sul e tem o objetivo de desenvolver uma monitoração participativa dos mananciais. Procura-se conscientizar os moradores ribeirinhos a terem uma relação de respeito e cuidado para com os rios, evitando enchê-los de lixo e replantando as matas ciliares, que diminuem o assoreamento dos canais. E no dia da romaria, os participantes trazem um frasco com água de cada nascente, abençoada na sua comunidade de origem. Todas as vasilhas de água são reunidas e derramadas na água (que ainda é suja) do lago Guaíba, demonstrando que os pequenos gestos de cuidado com a água podem ajudar a despoluir a água como um todo. De acordo com Irmão Antônio Cechin, coordenador dessa atividade, “este gesto representa o engajamento dos romeiros na despoluição dos rios”. Este é apenas um exemplo de que a partir da fé e da religiosidade, da comunhão de forças, se pode fazer algo concreto em defesa da água, da natureza, da vida, da paz e da dignidade de todos.

Frei Pilato Pereira
24/04/08

Para ver o texto na íntegra
http://www.franciscanos.org.br/ecologia/agua/

Nenhum comentário:

Postar um comentário